terça-feira, setembro 06, 2005

o último brilho

Senta-se com um ar cansado no banco do jardim…abandona-se agora só, no local onde, com ele, muitas vezes se abandonou aos caprichos do desejo!

Quer estar só! Conseguiu magoá-lo o suficiente para que partisse, sem a deixar de amar.

Ao longo dos anos, o amor dela foi-se habituando a ele, a ela, ao hábito…e para ela isso era sacrilégio…

O banco do jardim onde estava sentada tinha deixado de ser significado de desejo, prazer, loucura…para ser mais um sítio em que se entregava com enfado; ou mesmo saturada.

Tinha um amigo no início, e com um amigo ficou no fim. Tentou mudá-lo à sua imagem; depois percebeu que não devia amar-se a si mesma; não que não fosse importante, mas não significativo quando existe no outro.

Ele foi-se deixando mudar; mas acabou por se arrepender da submissão a que se entregava. De qualquer forma com a esperança de a reconquistar; preparou-lhe uma noite especial.

Com a chave que possuía do seu ninho, entrou e preparou-lhe um manjar… as suas especialidades e os gostos dela estavam lá…temperados com muita ternura…
A lareira acendeu-a ele, escolheu o vinho e esperou-a. Pelo seu sorriso leve, pelo olhar vivo e brilhante com o qual seria brindado.

Como a conhecia…Ela entrou e apesar do passado, abraçou-o. Continuava a sentir-se protegida naqueles braços enormes mas delicados.

O jantar foi como tantos outros, com muitos sorrisos, risos, gargalhadas… com aroma a despedida. Não se atreviam a nomear, identificar ou lutar sequer, porém ambos o sabiam. Queriam preservar o momento, imortalizá-lo, aquele que seria talvez, o último brilho dos seus olhos…

1 comentário:

Anónimo disse...

É bom quando podemos fazer uma despedida...